sexta-feira, 10 de abril de 2009

Café e Chá



Eu sou um viciado confesso em café de longa data. Entretanto fazem apenas alguns anos que comecei a prestar mais atenção na qualidade das chícaras que consumo. Nesse sentido me sinto privilegiado, pois o Brasil produz cafés excelentes (os quais infelizmente nem sempre chegam a maioria dos brasileiros), como o meu favorito, da região de Mogiana no estado de São Paulo.

No entanto, devo admitir, que o café em Ruanda é tão bom quanto aquele produzido no Brasil. Em certos aspectos, até mesmo melhor. Devido aos seus solos vulcânicos, o país produz um café de alta qualidade que tem um sabor fantástico. Entretanto, a maior parte da produção é destinada a exportação pois os povo local não tem hábito de tomar café. Um amigo certa vez me disse, que existe uma surpestição, principalmente entre os mais idosos, de que o café faz mal a saúde, o que desencoraja o hábito de apreciar a bebida. Até mesmo encontrar uma boa cafeteira pode ser uma missão difícil. Apenas há alguns anos que um emprededor nascido em Ruanda, mas que cresceu nos Estados Unidos, criou o Café Bourbon, uma franquia com 4 cafeteiras no país e 2 nos Estados Unidos. Lá é um dos poucos lugares onde pode-se apreciar o ótimo café de Ruanda preparado de maneira adequada (se tiver a chance de visitar o lugar, peça uma prensa francesa). Por isso mesmo (mais a conexão a Internet grátis), as lojas viraram um ponto de encontro dos expatriados, como eu.

O Café Bourbon também vende os grãos de café das diversas partes do país em sacos para levar. Sempre que venho ao país levo um saco de 500g do café da região de Virunga, famosa pelo solo vulcânico. Outra boa opção é o café Marabá, batizado com o nome da região do sul do país de onde provêm, e que pode ser encontrado nos super-mercados locais.

Os Ruandenses, de uma maneira geral, preferem o chá, que também tem plantações grandes no país (diga-se de passagem, as plantações de chá são uma visão linda). Não sou um grande apreciador de chá, e por isso não sei qual a qualidade da bebida em relação a outros lugares. Entretanto a maneira como é servido por aqui, com leite e gengibre, é deliciosa. Basta entrar em qualquer restaurante ou cafeteria e pedir por "African Tea". Com certeza uma experiência que qualquer viajante tem que passar.


Plantação de Chá na região do Lago Kivu

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Terra das Mil Colinas

Existem várias coisas que eu gosto em Ruanda (e outras tantas que não, como cerveja de banana), mas com certeza a que sempre me impressiona é a paisagem natural. O país, apesar de pequeno, tem diversos ecosistemas distintos. Savavas ao leste, florestas tropicais ao sul, vulcões na regioão de Virunga, e os lagos de Gyseni, na fronteira com a República Democrática do Congo. Entretanto, para mim, as colinas do país são a vista que sempre prendem o meu olhar.

Acredito que se impressionar com as colinas, seja uma coisa comum, pois em vários lugares Ruanda é chamada de "Terra das Mil Colinas" (Land of a Thousand Hills/Pays des Mille Collines). Mesmo em Kigali (capital do país) com sua paisagem urbana em desenvolvimento, quando olho pela janela do meu apartamento, consigo ver a silhueta verde das colinas em contraste com o azul do céu. E tão bonito, que muitas vezes fico apenas olhando pela janela de casa.

Entretanto é quando se viaja para o norte do país, que realmente pode se apreciar a beleza do país. Principalmente pela manhã, quando a névoa ainda esta presa nas encostas das colinas. É de tirar o fôlego.
Como Ruanda é o país mais densamente povoado da África, toda terra é importante para as plantações de banana, batatas e mandioca. Isso faz com que a população utilize as encontas das colinas, muitas vezes criando pequenos terraços. Apesar dessa atividade ter repercussões ambientais, incrivelmente parecem deixar um contraste ainda mais interessante na estética das encostas.


Certa vez um amigo local chamado Antoaine me disse que a vida do ruandense gira em torno das colinas. Que aqui, ao invês das pessos se organizarem em vilas, elas batizam as colinas onde vivem. Enxerguei nessa prática algo de estético, como se tivesse tudo a ver com aquilo que vejo quando olho pela janela

Um Aviso

Eu estava escrevendo meu primeiro post efetivo para o blog quando decidi atrasá-lo um pouco para realizar um aviso ao eventual leitor. Muitos dos não ruandenses com quem tive contato aqui (expatriados principalmente dos EUA, Inglaterra e resto da europa) vêem sua estadia em Ruanda quase como uma aventura. Eles vem cheios de energia querendo mergulhar tanto quanto possível na cultura local e experimentar tudo quanto é possível.

Bem, acho importante avisar que eu não sou uma dessas pessoas. Não sei exatamente porque, mas vejo esse comportamento um pouco como uma caricatura. Talvez seja aquela imagem do gringo tentando sambar e se embriagando de caipirinha. Não que as pessoas não devam experimentar o que um outro país tem a oferecer, principalmente nas viagens curtas. Mas como tenho o privilégio de estar no país por um período mais prolongado, prefiro observar a cultura um pouco a cada dia, nas conversas, nos mal entendidos e principalmente nos pequenos detalhes. Não quero ver a cultura de ruanda como uma caricatura, nem pretendo me tornar uma fingindo que estou incorporando os hábitos daqui.

Outro fato, é que gosto muito da minha terra, o Rio Grande do Sul e do Brasil. Mesmo achando o máximo a experiência que estou tendo de viver na África, não se passa um dia se quer sem que sinta saudade de casa. E não falo isso porque ache que aqui seja ruim e sinta falta apenas dos confortos da vida no Brasil. Penso apenas que algumas pessoas, como eu, sentem uma inexorável ligação com a terra onde nasceram e cresceram.

sábado, 28 de março de 2009

In The Land of One Thousand Hills

Se você procurar pelas palavras "Brasil" e "Ruanda" no Google, não encontrará muita informação. Aparentemente não existe muitas coisas que unam esses dois países, com excessão, talvez do Café e das cores da bandeira. O café que é um importante produto para a economia de Ruanda e para o Brasil, se já não é mais peça tão fundamental na economia, com certeza é central em parte de nossa história.

Se procurar pela palavra "Ruanda", como escrevemos em português, também não achará muita informação. Na maioria artigos na Wikipédia e comentários sobre o filme Hotel Ruanda.

Brasileiros que visitaram Ruanda? Bem, com certeza existem vários, mas infelizmente não consegui encontrar nenhum ainda. Bem, exceção seja feita ao Sebastião Salgado, que possuí fotos fantásticas do país e passou por aqui várias vezes.

Navegando na Internet certa vez, encontri o blog de uma americana chamada Morgan. Morgan in Africa, ela chamou o relato que fez do tempo que viveu em Ruanda. Achei muito legal a forma como ela relatou suas experiências e a sensibilidade da escolha dos tópicos. Me senti incentivado a tentar fazer algo semelhante e colocar no papel, quer dizer, na Internet, um pouco das experiências que tenho vivido aqui. Por favor, não esperem muito. Não sou escritor nem por hobby, e meus textos tendem a ser longos e enfadonhos. Entretanto, acho que vale a pena o esforço de registrar o que vivo, penso e sinto. Mais importante, fazer isso em português, para quem sabe, os brasileiros que no futuro venham para nessas bandas, tenham uma referência para suas próprias experiências.

E afinal, como um brasileiro foi parar em Ruanda? Bem, eu trabalho para a ONG americana One Laptop per Child, cuja missão é proporcionar oportunidades de educação para as crianças mais carentes do mundo, dando-lhes acesso a um laptop resistente, de baixo custo, com baixo consumo de energia, conectado em rede. Como trabalho a mais de uma década com informática na educação no Brasil, onde tive oportunidade de trabalhar com alguns dos maiores especialistas da área, e tive muita sorte, acabei sendo convidado para trabalhar como consultor para OLPC. Como Ruanda é um dos países que está mais envolvido com o projeto de um laptop por criança, acabei sendo enviado para cá. Aqui devo trabalhar com o governo no planejamento e implementação do projeto. Também é meu trabalho auxiliar na formação dos professores, tentando fazer com que eles e seus alunos tirem o máximo proveito dos laptops.

O trabalho com a OLPC me possibilitou visitar Ruanda quatro vezes até o momento. As duas primeiras viagens foram de curta duração, menos de uma semana. A segunda viagem, em 2008, durou três meses, e foi quando tive oportunidade de conhecer o país um pouco além do superficial. Agora em 2009, estou iniciando minha quarta viagem ao país, que deve durar alguns meses. Esse blog pretende ser uma coletânea de observações, comentários e fotos. Com certeza não seguirá uma ordem cronológica, mas será mais como uma colcha de retalhos.

Espero que seja útil tanto para os curiosos quanto para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre a Terra das Mil Colinas.